Regina Sardoeira
Regressei a Óbidos nestas minhas pequenas férias e transformarei a experiência total ( pois comecei o périplo na vila de Nazaré) numa nova página das Viagens Literárias que venho a realizar desde Junho de 2019. Esta foi a décima.
Quando estive em Óbidos, exactamente em Junho de 2019, com intenções não-turísticas, entenda-se, deixei em branco algumas actividades. Não subi até ao Castelo, por exemplo. E então, desta vez, tomei essa ascensão como desígnio.
O Castelo de Óbidos sendo de origem romana, edificado sobre uma colina, foi posteriormente fortificado sob o domínio árabe. Depois de ter sido conquistado pelos cristãos, em 1148, foi restaurado e ampliado várias vezes.
No século XVII, sob o reinado de D. Manuel I, o castelo foi transformado num palácio. Desde 1950, até aos dias de hoje, o castelo serve de abrigo a uma luxuosa Pousada designada como “Pousada Castelo de Óbidos”.
O castelo conserva ainda elementos de valor: o arco de entrada; as janelas manuelinas, as molduras; a cisterna, descoberta em 1931, ao pé da torre. E das ameias vislumbra-se uma paisagem magnífica, também ela evocadora dos tempos medievais em que várias rainhas vinham a Óbidos beneficiar das águas termais e dos seus territórios, outorgados pelos reis , seus esposos, como dote régio.
Visitado o Castelo e feita esta incursão por várias épocas históricas, estava na hora de realizar outro intento: provar a ginja de Óbidos. Não foi nada difícil encontrar esta especialidade de Óbidos, cuja idiossincrasia climática é favorável ao cultivo dos pequenos frutos ácidos, as ginjas, e logo me serviram um copo minúsculo com a bebida. De realçar que o copo, de chocolate, era comestível, pelo que acumulei duas experiências. Senti, no entanto, que, embora a ginja e o chocolate se harmonizem, o travo da bebida extinguiu-se quase de imediato após a degustação do copo respectivo.
Ora, uma vez que estava em Óbidos e a minha memória registava a compra feita há dois anos de um chá, bastante exótico, pois é uma infusão de chá preto com aroma de morango e champanhe, decidi procurar a loja, na Rua Direita, a principal da vila fortificada, e repor o meu stock do chá, de aroma e sabor muito agradáveis e terminado há muito. Encontrei-a, após umas buscas, pois há imensas lojinhas de artesanato e recordações e são todas idênticas, adquiri-o e juntei-lhe outro chá, este de moscatel, uma componente também pouco usual.
De resto, Óbidos revelou-me, de novo, a sua natureza secular, as lajes gastas das ruas íngremes, os vestígios árabes profusos, a pedra morena da muralha, os arcos e escadarias e ainda um certo afluxo turístico.
De tarde, fiz uns desvios, vi a Lagoa de Óbidos e não resisti a uma muito rápida incursão na praia Rei Cortiço, próxima, deserta e rapidamente coberta de nuvens.
Fiquei alojada numa casinha encantadora, fora das muralhas, térrea, branca, orlada de azul forte, decorada com muita imaginação e arte, repleta de pormenores originais em cada espaço, para além do conforto e sossego, que também são indispensáveis ao usufruto das férias.
À noite, numa cama cuja cabeceira havia sido decorada com três filas de livros abertos, ali presos, num convite ao deleite literário, ocorreu-me o ponto de partida para escrever um novo livro. Não fui capaz de adormecer, sem abrir o tablet e dar início à história, cuja protagonista chamei Elena: assim mesmo, sem H.
Sou uma viajante impetuosa e deixo-me levar por impulsos incontroláveis de ir aqui e ali, quer os destinos me fiquem (ou não) no caminho.
Regressei, por fim, e senti-me revigorada: como se o acto simples de sair do sítio habitual e demandar outros destinos fosse suficiente para me acrescentar.