Maria João Covas
O que é um clássico?
Um livro que ficou para além do seu tempo?
Uma obra-prima da literatura mundial ou do país?
Um livro que seja original na sua história?
Se estas forem as premissas para a classificação de um livro como um clássico então hoje vamos falar desse género de obra.
No entanto foi um livro, ou melhor, um conjunto de livros, que perdurou para além do seu tempo. Sim, é verdade faz parte da história da literatura de França e acaba por ser uma obra universal. A sua originalidade está na forma como se constrói uma personagem para suplantar outra.
Claro que estou a falar de Arséne Lupin. Não, não se trata de Lupin, a série. Trata-se de Arséne Lupin, a personagem criada por Maurice Leblanc. Mais propriamente do primeiro livro intitulado “Cavalheiro ladrão”.
Arséne Lupin é uma das personagens mais conhecidas no seu país de origem e foi lido por uma geração à qual pertenço. Agora, devido às inúmeras edições que surgiram, e bem, no mercado há um novo público que conhece este ladrão com um caracter de moralidade e de honestidade surpreendente. Este primeiro volume prova que se pode ser cavalheiro no crime, ser justo no delito ou mesmo distinto no roubo. A este poder junta-se uma capacidade de observação surpreendente, uma magia em se conseguir transformar e uma inteligência acima da norma.
Criado para ser o Sherlock Holmes de língua francesa, Lupin acaba por ser muito mais do que Holmes, sendo mais simpático, mais empático e mais completo. O detetive é vencido pelo ladrão. Maurice Leblanc poderá não ser o maior escritor, mas a sua personagem atravessa o tempo e encarna em si mesmo um dos mais afáveis ladrões da história da literatura.
Personagem de início de século, onde o grande desenvolvimento tecnológico era o telégrafo, temos aqui a valorização da inteligência, do raciocínio e da capacidade de dedução.
Não esperem no entanto encontrar no livro o Lupin da serie da Netflix. Este, o da serie, é um jovem do seculo XXI que sendo muito interessante e bem construído apenas é um fã da personagem de Leblanc, leitor atento e interessado, que adotou o nome e as soluções da sua personagem preferida, como forma de esconder as suas falcatruas.
Mas sendo um clássico ou não (e eu estou inclinada, apesar de tudo, para que seja) a verdade é que vale a pena pegar nestes livros e conhecer este jovem que se transforma, engana e rouba os seus contemporâneos, mas nunca deixa de ser um cavalheiro, um cavalheiro ladrão. O Gentleman Cambrioleur mais famoso do mundo.