José Castro
Brevemente, dia 21 de novembro, comemora-se o Dia Mundial da Televisão. Os mais “entradotes na idade,” lembram-se do dia em que o televisor chegou a casa pela primeira vez. Não chegou sozinho, pois vinha com uma outra caixa o estabilizador! O rádio, que até aqui era alvo de toda a atenção, passou para segundo plano. O “milagre da imagem”, que na altura achávamos de ótima qualidade, chegava a casa. Na ignorância e curiosidade de criança, lembro-me de pensar como as imagens iam lá para dentro! Claro que a RTP era o único canal, apesar de, quando se rodava a antena, se conseguisse apanhar imagens, embora desfocadas, de um canal espanhol!
Rapidamente ficávamos rendidos à televisão. Se no passado todos ficavam reunidos à volta da lareira, agora o centro estava no televisor. Era de lá que vinham as notícias, os filmes, desenhos animados, o desporto, a informação e o término, com o Hino Nacional.
Anos mais tarde, veio a imagem a cores! Foi numa montra de uma loja de eletrodomésticos em Fafe, que vi a primeira imagem colorida. Tudo evoluiu, desde os iniciais caixotes pesados e imagens a preto e branco deformadas (CRT), Plasma, LCD e aos Led sofisticados de hoje. A definição da imagem é tal que os nossos olhos já não têm capacidade para alcançar esse nível! Mas não foi apenas a tecnologia que evoluiu. Foi também a liberdade de escolha. Assim, além da RTP1 e depois a RTP2, chegaram os canais privados da SIC e TVI. Programas que no passado seriam censurados eram transmitidos naturalmente, apenas os mais “fortes” levavam a dita a bolinha vermelha e eram transmitidos para além da meia-noite. E essa liberdade não parou de aumentar! Hoje, qualquer cidadão tem acesso a mais de 200 canais temáticos à sua escolha sem ou com bolinha, basta apenas pagar esse serviço.
Assim, como a televisão não eliminou o rádio, a internet e respetivos programas visuais, não destruíram a televisão, que se transmite por e através dela! Claro que as redes sociais vieram atrair a geração mais jovem, mas um bom (e grande) televisor led, sintonizado num canal com um bom filme, praticamente recria em casa uma cessão de cinema, para ver com os amigos!
Mas, toda a evolução apresenta os seus pontos “negativos”! Que fazemos com tanta facilidade de acesso a meios audiovisuais? Como sempre, a liberdade de opção implica discernimento e responsabilidade. Será que é isso que ocorre? Não se trata de desligar o televisor quando num filme se vê uma mulher beijar na boca um homem, (como ocorria no passado), mas prestar atenção à permissividade com que as crianças veem filmes violentos ou mesmo pornográficos, sem qualquer controlo por parte dos progenitores!
Uma criança de 10 anos quantas cenas de violência (nos mais diversos contextos) já assistiu? Após uma imagem “entrar” na mente da criança, não sai mais! A forma como a vai processar (decorrente da sua imaturidade psicológica), as emoções associadas e os efeitos destas podem causar “danos” e dificultar futuros relacionamentos saudáveis com os pares.
Mas não são só as crianças que são alvo de fatores “menos positivos” do progresso. E os adultos? Com tanta informação e contra informação, imagens reais e falsas espalhadas pelos meios audiovisuais, sem o tal discernimento e pensamento crítico, facilmente se deixam arrastar para o mundo irreal, vazio, com consequências nocivas para a evolução da humanidade.
E tudo começou com uma caixa pesada, com imagem cintilante a preto e branco e conteúdos censurados!