António Coito
A minha ausência nas habituais crónicas tem uma justificação muito clara – não estava a escrever com gosto! Perdoem-me se em primeira análise transmito algum desdém, mas, na verdade, passei por uma fase altamente importante no meu percurso de adolescente, extremamente reflexiva e muito enriquecedora. Parece que teve efeitos positivos, mas contribuiu para que a minha capacidade criativa estivesse mais fragilizada! Simone de Beauvoir, senhora de grande relevância no universo das humanidades, com postura e atividade sui generis, afirmara que «não se pode escrever nada com indiferença». Este pensamento aplica-se à minha condição. É certo que podia continuar a presentear-vos com as minhas crónicas mensais, no entanto, não teriam grande interesse, porque não estariam a ser equacionadas com agrado, surgindo um resultado simplório, sem qualquer magnitude para o leitor, tornando-se uma criação sem amor – uma escrita sem amor não tem sentido!
É a hora de regressar! Claro que acabo de sentir um grande sentido revolucionário dentro de mim, assim que associo esta exclamação ao poema ‘’Nevoeiro’’, da Mensagem, quando o sujeito poético utiliza a expressão «É a hora!» para apelar à mudança, abrindo o caminho para o futuro, havendo aquele apelo incessante ao Quinto Império, que antevê um império que vai além do material. Para amantes da escrita de Fernando Pessoa, como eu, é sempre propícia a analogia das ideias que vão na nossa mente com as do poeta. Assim sendo, continuarei a escrever, realçando que ainda não entrei num «intenso sofrimento»!
Comecei a criar com amor, deixando-me levar pelas energias e pensamentos positivos desta época do ano. Confesso que este ano não senti o Natal como antes. A idade já é outra e a forma como analisamos a vida e estes momentos é dispare dos tempos da infância. Para mim, mais do que nunca, o Natal passou a ser um sentimento, pois os valores defendidos para esta época são universais, intemporais e fundamentais. O Natal é todos os dias. Prendas que representam as ofertas ao menino Jesus? São ideias energúmenas reforçadas pela sociedade consumista onde me insiro, que dá mais valor ao material e abstém ou destrói a parte moral. O Natal adquire o seu verdadeiro significado quando vejo os anos passar, quando abraço os que estão e relembro com intensidade e amor os que já partiram. A pandemia provou que podemos ser privados de estar com quem amamos e que o Natal pode assim perder o seu verdadeiro sentido!
A crise económica provocada pela pandemia é algo que preocupa a generalidade da população. Nos últimos dias, nos meios de comunicação social, falou-se nos gastos dos portugueses nas compras de Natal, que aumentaram quase 40%. Embora se continue a verificar hábitos consumistas, houve um dado que me agradou particularmente – os presentes relacionados com brinquedos passaram a ocupar a posição quatro no top cinco de presentes que os portugueses tencionam oferecer, face ao ano anterior, que ocupava a posição dois. É excessiva a oferta de brinquedos às crianças, e este valor é favorável, significando que está a haver uma tendência decrescente, ainda que seja das ofertas mais comuns. Aqui este jovem, que já passou pela fase de receber brinquedos, apela que a seleção dos mesmos seja feita em conformidade não só com a idade da criança, mas também com os benefícios que reúnem para o desenvolvimento cognitivo da mesma.
Depois de falar de embrulhos e embrulhitos, parece-me legítimo falar daquilo que realmente importa – o verdadeiro Natal. Levo deste Natal o contributo de cada familiar para que a noite fosse especial, o sabor da comida que parecia muito mais saborosa com o calor humano que se fizera sentir e, acima de tudo, a felicidade de vivenciar mais um ano e ainda estar aqui. O Natal, como qualquer sentimento, torna-se excelso quando o experienciamos com todas as nossas forças.