José Castro
Não estavam previstas para este momento. Faltavam dois anos para avaliar de forma mais rigorosa, no sentido positivo ou negativo, a atuação do governo. Mas tal não aconteceu e com o chumbo do orçamento de 2022 precipitaram-se as eleições de dia 30 janeiro.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a Democracia é “um valor universal baseado na vontade, expressa livremente pelo povo, de determinar o seu próprio sistema político, económico, social e cultural, bem como na sua plena participação em todos os aspetos da vida”. Infelizmente, ainda não chegamos a esse nível de democracia. Aliás, desde o 25 de Abril a dita “plena participação do povo” tem vindo a diminuir, atingindo a abstenção nas eleições legislativas de 2019, o valor mais elevado de 51,43%. A mensagem que o “povo” passa é de já nem quer saber por quem o país vai ser governado! Que está a acontecer? Será por falta de partidos políticos que representem os seus ideais? Existem em Portugal 24 partidos inscritos, tendo surgido o primeiro em 1974 e o último em 2020. Será que “não querer saber” é a melhor forma de praticar a cidadania por parte da maioria dos nossos eleitores? Esta ausência participativa na vida política, negando um direito sublime de escolher os governantes, deveria ser alvo de um estudo académico. Será que esquecemos a nossa história e a conquista (demasiado) lenta de direitos, liberdades e garantias?
Quando em 1822, o deputado Borges de Barros apresentou uma proposta para o direito de voto das mulheres com seis ou mais filhos legítimos, teve como resposta do deputado Borges Carneiro:
“Trata-se do exercício de um direito político e deles são as mulheres incapazes. Elas não têm voz nas sociedades políticas: mulier in ecclesia taceat, (deixe a mulher ficar calada na igreja ) diz o Apóstolo.” *
Se a primeira mulher (como exceção, a nível da Península Ibérica) votou em 1911, (Drª Carolina Beatriz Ângelo), será que esquecemos como foi conquistada a participação universal de todos os eleitores e eleitoras?
De que forma estamos gratos por aqueles que foram presos ou morreram para conquistarmos o direito universal de votar? Será que temos memória curta, ou os nossos jovens pensam que em Portugal sempre foi assim? Não deixa de ser curioso que, a título de possibilidade matemática, se quem se absteve votasse num único partido (fosse qual fosse) este ganharia com maioria absoluta! Efetivamente o poder está no povo, mas este não o utiliza quando é solicitado a fazê-lo!
Por outro lado, lembrar que a maioria daqueles que exerce o direito cívico de votar, centra-se sempre em dois partidos, que ao longo da nossa democracia vão alternando no poder governativo. Esta mensagem reflete que por um lado querem continuar naquela zona de conforto ou que ainda toleram a zona de desconforto gerada! Provavelmente quando a intensidade do desconforto percecionado pelos eleitores for mais elevada irá fazer fluir o seu voto para as forças políticas restantes.
Nesse sentido caro(a) leitor(a) e eleitor(a), a melhor forma de homenagearmos os antepassados, que nos permitiram hoje viver em “democracia” é (se já não o fez) dia 30 mostrar que existe, que tem opinião e que a irá expressar no boletim de voto de forma consciente, livre e não por mero impulso emocional inconsciente. A sua cruz no boletim de voto, só é útil se representar aquilo pensa, sente e deseja para Portugal.
* https://www.parlamento.pt/