Raquel Evangelina
Aqui há dias circulou umas fotografias nas redes sociais do desespero de uns pais ucranianos após a morte do seu filho de 18 meses, vítima de um bombardeamento em Mariupol. Não sou propriamente adepta de quando a comunicação social explora o sofrimento alheio mas decidi referir isto porque as imagens, de um sofrimento atroz, me tocaram em pontos sensíveis.
Afinal, de que nos queixamos? Eu sei que todos temos as nossas lutas diárias, dilemas e problemas, mas, se olharmos à nossa volta, será que somos as pessoas mais infelizes do mundo? Será que se tivermos consciência de problemas de outros que nos rodeiam e, por vezes, nem se queixam, não damos conta que afinal até temos um bocadinho de sorte? Que somos afortunados?
Alguns de nós têm problemas de saúde e, por vezes, graves. Mas estamos aqui, a lutar para ultrapassar isso. Há tanta gente que lutou em vão. Tanta gente que, por muito boa que fosse, a vida não deixou que ficasse cá para contar a sua história de superação. Pessoas cheias de vida e com tanto pela frente. Crianças que nem tiveram tempo suficiente para saber o que é viver.
Podemos estar a lutar mas… ainda cá estamos. E todas as manhãs, quando abrimos os olhos, temos um motivo mais que suficiente para perceber o quão afortunados somos.
A condição financeira é, também, algo que nos afeta. Estamos mal porque não temos aquela casa que tanto queríamos. Mas temos uma casa. Pode não ser grande, pode não estar em nosso nome, mas não deixa de ser uma casa. Um lugar seguro, um refúgio, onde podemos esquecer o mundo e sermos nós. Nem todos têm isso! Nem todos têm a sorte de ter um lugar para ficar. Basta ver o que está a acontecer com a Ucrânia no momento, e que acontece há muito em vários locais do mundo. As pessoas são obrigadas a deixar as suas casas, em busca do desconhecido. Não há refúgio. Não há lugar seguro.
Precisamos mesmo de estar insatisfeitos por não termos uma casa tão grande, ou moderna, como gostaríamos? Ou até por não ter o telemóvel de última geração ou aquele vestido caro? Somos felizes com muito pouco. E quem não sabe isso, que procure ver uma criança de terceiro mundo a mostrar um enorme sorriso por ter uns sapatos todos gastos e talvez entenda essa grande lição de vida!
E, por fim, o amor. Todos nós já estivemos mal de amores. E quando aquela pessoa, que tínhamos como certa, não nos quer mais e nos deixa… É o fim do mundo. Somos infelizes porque ninguém nos quer amar. Devemos ter feito algo de muito errado, não é? Como é que toda a gente tem alguém que a ama menos nós? O facto é que, em vez de nos queixarmos, devíamos ver a sorte que temos ao amor.
Amor é ter os nossos pais, ainda por cá, e poder partilhar a vida com eles. Amor é aquela amiga que te avisou imensas vezes que ia correr mal, e tu nunca lhe deste razão, e quando te arrependes é a primeira a refugiar-te num abraço. Amor é a gargalhada que as crianças que te rodeiam dão quando brincas com elas. Amor é, até, o abanar da cauda do teu cão. Amor é teres-te a ti e seres fiel aos teus princípios. Claro que, o amor também é ter alguém mas… apenas se nos der o valor merecido.
Falamos muito de “barriga cheia”. Portanto, o meu desafio é que da próxima vez que estivermos em baixo, frustrados, de mal com a vida, possamos ter uma visão empática e colocar-nos no lugar dos outros. Talvez ajude a que percebamos que não somos assim tão infelizes.
Afinal… De que nos queixamos?