Maria João Covas
É oficial. Afinal eu gosto de fantasia.
O livro que mo provou é uma obra que não podem deixar de ler “A vida invisível de Addie LaRue” de V.E. Schwab.
Este é o tipo de livro que tinha tudo para não ser um livro que me agradasse. Logo à cabeça o facto de ser fantasia. Mas comecemos pelo princípio.
Addie LaRue é uma jovem que quer fugir de um casamento que não deseja. Esta jovem está de tal forma desesperada que faz um acordo com uma identidade que lhe garante a imortalidade e a fuga àquele matrimónio não querido. Mas, porque nada é de graça, a sua maldição é o facto de ser esquecida por todos aqueles que se cruzam com ela. Está lá, olhar ao largo, já não está. Quem fala com ela não se lembra que 5 minutos antes já a tinha visto.
Esta ideia poderá ser atraente em certos momentos, mas o livro prova que, na verdade, é bastante cansativo. O recomeço, o não deixar marca, a perca de identidade são problemas que a autora levanta e fundamentais para a sociedade em que vivemos.
LaRue vai-nos dando, pela pena de Schwab, a sua vida em três tempos distintos, ou não fosse ela imortal.
E a fantasia termina aqui. Porque se a jovem aparentemente parece não crescer, a verdade é que os anos (300 coisa pouca) trazem uma maturidade e uma visão da vida que acaba por a fazer tornar-se num ser menos ingénuo, mas mais desconfiado, apesar de grato. E quem leu percebe o que quero dizer com esta gratidão.
A juntar a toda a narrativa construída à volta da personagem temos a escrita da autora, que sendo fluída, acaba por nos dar todos os elementos de que necessitamos para conseguirmos acompanhar a nossa protagonista ao longo do romance. As descrições são necessárias para o entendimento da história (mesmo quando nos parecem excessivas), e a narrativa em tempos distintos é uma mais-valia como construção. E deixem-me salientar a densidade psicológica das personagens no geral e de Eddie em particular. São apenas e só brilhantes.
Eddie foi uma personagem que amei. Chorei com ela, ri com ela, amei com ela. Conheci cidades em tempos diferentes, vivi guerras (irónico, não?), ouvi filósofos, observei quadros e discuti literatura com os próprios dos clássicos. Eddie é daquelas personagens que tão cedo não vou conseguir esquecer.
E no final, confesso que embora achasse que o livro perdia, torci por ela. Para que ela conseguisse o que mais queria. E será que não conseguiu?