Tatiana A. Santos
O assunto do momento, queiramos ou não, é o julgamento relativo ao que se passou entre o actor Johnny Depp e Amber Heard. Amber foi um dos nomes activos do movimento MeToo e acusou Johnny Depp de violência doméstica. A carreira do actor nunca mais foi a mesma (sabemos bem quão fácil é destruir a reputação de alguém e o difícil que é – sobretudo em Hollywood – voltar a construí-la, tenham sido verdadeiras ou falsas as acusações). O facto é que, quando do início da relação dos dois, todo o mundo sabia quem era Depp, mas ninguém conhecia Amber. Isso colocou o actor por baixo de todos os holofotes mediáticos. Johnny Depp foi criado num ambiente abusivo. Mãe física e psicologicamente agressiva, pai passivo e submisso. Assim que teve possibilidade, ele e a irmã aproveitaram para sair de casa pois estavam expostos a todo o tipo de maus tratos, bem como exposição indirecta a violência, manipulação e humilhação da mãe perante o pai. Depp, ultimamente, lutava contra uma depressão major, sofre de hiperactividade e défice de atenção e Amber foi diagnosticada com personalidade Borderline. Temos o cocktail perfeito para uma relação tóxica, abusiva e com um final muito infeliz.
Amber é uma figura manipuladora, inteligente e com muita ânsia por fama. Ninguém sabia da sua existência até iniciar uma relação com Depp. Soube explorar as suas fragilidades como ninguém. Conhecia a sua história de vida e o seu percurso familiar. Tratava-o, exactamente, como a mãe. Ofensas, humilhações, maus tratos. Ela própria assumiu que lhe bateu e defecou na sua cama. O seu descontrolo era tal, que quando Depp quis fazer tratamentos para melhorar da depressão e do consumo de álcool e cocaína, ela ameaçou que o deixaria caso ele não os interrompesse. O actor, que já vivia uma depressão, aumentada pelo consumo de substâncias, não estava mais a conseguir lidar com a situação. Numa viagem feita à Austrália, quando da gravação dos Piratas das Caraíbas, Depp levou Amber consigo. Os abusos, as humilhações e os maus tratos foram de tal forma, que Johnny Depp se auto-mutilou cortando a ponta do seu próprio dedo.
As mensagens para o psiquiatra de Depp constituem também prova do que estava a passar. Depp sentia que tinha sido “caçado” apenas como plataforma para Amber poder subir na carreira (coisa que aconteceu, em oposição à do actor). Depp descreve ao seu médico os abusos que sofria e dizia “não aguentar mais viver assim”. Quando confrontada com o fim da relação e sempre que Depp tentava seguir em frente, Amber – que conhecia o padrão da mãe do actor – ameaçava o suicídio, tal como esta o fazia durante a infância de Depp. Com isto não estou a dizer que Depp seja “flor que se cheire”. Quem o conhece, tem-no como arrogante, prepotente, até um pouco agressivo. E vemos vídeos em que é verbalmente violento e agressivo para com paredes ou móveis. Mas isso não significa que não exista uma dinâmica completamente disfuncional entre este ex-casal e que toda a manipulação e maus tratos de Amber não tenham escalado todos os comportamentos. A verdade é que Depp afirma a pés juntos nunca ter tocado na Amber, usando a referência do seu pai, que aguentou sempre passivamente a sua mãe, tendo – no máximo – esmurrado uma parede mas nunca lhe tendo tocado de forma agressiva.
Não sabemos, na realidade, o que é verdade ou mentira neste julgamento cheio de mediatismo, mas sabemos com toda a certeza que nem todas as mulheres envolvidas no movimento MeToo eram, na realidade, vítimas. Sabemos que muita gente usou o MeToo para subir na escada na fama e denegrir/destruir carreiras concorrentes. Sabemos que, nem sempre que há violência doméstica numa relação ela parte do homem, apesar deste ser biologicamente mais forte e, por isso, os danos serem mais observáveis quando isso acontece. Mas existem muitos homens vítimas de violência doméstica. A sociedade exige-lhes que não se queixem porque isso “não é de homem”. “Que vergonha um homem deixar-se bater ou manipular pela mulher”. Todos estes estereótipos fazem com que o homem não peça ajuda e não denuncie.
Na relação de Depp com Amber sabemos que ambos não estão bem e juntos evidenciavam o pior de cada um. Mas a verdade é que Johnny Depp esteve muito tempo a pedir ajuda (pessoal, médica, psiquiátrica) e a sua situação era continuamente debilitada pelos traços Borderline descompensados de Amber. Há patologias que não se complementam, simplesmente. Uma personalidade limite com alguém deprimido, irá sempre resultar na manipulação e no abuso por parte do primeiro. Depp expôs-se perante o mundo (não deverá ter sido fácil para alguém na sua posição). É importante que os homens peçam ajuda no momento certo, sem estigmas e preconceitos. A violência doméstica acontece sobre os homens, SIM.