José Castro
Todos nós já ouvimos, relativamente a alguém frases do género “é muito burrinho” ou “é muito inteligente”. Antigamente, mesmo em ambiente escolar, era “aceitável” um professor apelidar um aluno de “burro,” aplicando o respetivo castigo, as tão “famosas” reguadas nas mãos. Felizmente que hoje são outros tempos, não só em termos de direitos/deveres, liberdades e garantias, como em conhecimentos científicos, nomeadamente na área das neurociências. Apesar disso, frases populares como “burro que nem uma porta” persistem no tempo, assim, como associar a quem frequenta um curso superior cujas notas de acesso são “altas”, como medicina, engenharia aeroespacial, física tecnológica, etc, uma elevada inteligência.
Se no passado se pensava que o QI (quociente de inteligência) era fundamental para medir o quanto mais inteligente é a pessoa, hoje, felizmente já se sabe que esse valor é bastante redutor e jamais caracteriza a pessoa como um todo! Com a teoria das múltiplas inteligências de Howard Gardner (Inteligência Linguística, Corporal/Quinestésica, Musical, Lógico/Matemática, Espacial, Intrapessoal, Interpessoal, Naturalista), as coisas complicam-se bastante mais e deixa de fazer sentido a célebre questão “quanto mais inteligente é a pessoa A em relação à B?” reformulando-se assim a questão para “ de que forma é a pessoa A inteligente?”. Assim sendo, poderemos ter alunos num curso de engenharia com elevadíssima inteligência lógico/Matemática e menor inteligência, por exemplo, musical, podendo o inverso acontecer num aluno que frequente o Conservatório.
A Inteligência Emocional (cujos autores principais são Salovey e Mayer/ Goleman/Bar-On) tornou-se bastante popular, pelo menos em teoria, estando a sua aplicação no terreno numa fase ainda bastante incipiente. Ter conhecimentos não implica pô-los em prática!
Outros autores ( Wolman, Nasel, Amram, King, Wigglesworth) propõem ainda uma Inteligência mais profunda, a Inteligência Espiritual, criando, à semelhança de todas as outras, instrumentos de medida. Salientar que Inteligência Espiritual é campo da ciência e, portanto, não está afeta a nenhum tipo de religiosidade ou espiritualidade! Pois, o mais aficionado ateu apresenta Inteligência espiritual (como todas as outras). Para Cindy Wigglesworth, por exemplo, Inteligência Espiritual, “é a capacidade de se comportar com sabedoria e compaixão, mantendo paz interior e exterior, independentemente da situação”. Este tipo de Inteligência é por assim dizer, transversal a todas as outras dando-nos a sensação de plenitude e de interligação com todos os outros seres.
Sabendo de tudo isso, para quando o desenvolvimento da inteligência espiritual na educação dos filhos? Para quando o desenvolvimento da mesma em contexto escolar, a todos os níveis?
Mesmo em contexto organizacional, a Espiritualidade será um dos pilares da gestão das organizações, segundo Maria Joelle, colaboradora no centro de investigação da Universidade de Coimbra, que propõe a ferramenta de gestão GSW – Global Spirituality at Work.
Quero acreditar que quando todos nós estivermos “suficientemente inteligentes,” em todas estas vertentes (física, emocional, espiritual), estaremos finalmente a cumprir conscientemente a nossa “missão” como cocriadores de um mundo mais justo, fraterno e ético para todo os seres.
Então, caro leitor, como vamos de inteligências?
Publicidade