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Cultura, Literatura e Filosofia

AO HOMEM, AO ESCRITOR, AO POETA, AO AMARANTINO

António Patrício

Numa viela sem nome que ligava o lugar dos Eirados à rua São Sebastião, saídos de uma casa rés-ao-chão e de uma só porta, ouviam-se os gemidos de uma criança, filho de mãe doente e condição humilde. Por entre os gemidos e com eles misturados ouvia-se, de quando em vez, um aiar de voz cansada e rouca que augurava pouca saúde. A iluminar tudo isto, uma luz amarelenta e frouxa proveniente de um candeeiro de iluminação pública, dava um ar da sua graça.

António Teixeira de Queiroz

Cresceu, esta criança, entre as mais difíceis condições de sobrevivência e, quando chegou a altura de frequentar a escola primária – assim se dizia naquele tempo – descalço, de roupa remendada e com a barriga mal acolchoada, lá foi cheio de interrogações e vontade de aprender. Os deveres escolares para fazer em casa eram feitos já de noite e sentado na soleira da porta para aproveitar aquela luz benfazeja e pública. Tinha uma vontade impaciente de aprender e estudava, noite adentro, tantas vezes acompanhado dos ralhos e preocupações de sua mãe fraca e picada pela doença.

Algumas pessoas, da então vila de Amarante, aperceberam-se desta criança e da sua intenção de vir a ser alguém; da sua ânsia de aprender e de se cultivar e, cada um a seu modo, foram-lhe dando a mão e alimentando a sua chama. Entre eles e, sem desprimor para outros quejandos, que também os houve, realço o nosso querido poeta Teixeira de Pascoaes que lhe deu e emprestou muitos livros e o Tenente Vieira a quem chama de pai e diz ter sido quem lhe pagou a frequência na Escola Superior (hoje 2.º ciclo) – duas pedras graníticas fundamentais no crescimento e desenvolvimento intelectual deste jovem amarantino – que testemunharam o seu percurso de vida e foram o seu amparo.

Acabados os estudos enfrenta o mundo do trabalho, onde acaba por fazer um pouco de tudo pois caía-lhe sobre a cabeça a responsabilidade de contribuir para o governo da casa. Foi encadernador, caixeiro-viajante, novelista, cronista, editor, comerciante (teve uma barraca na praça do mercado onde vendia livros novos e usados e uma livraria no Arquinho que foi inundada e destruída aquando de uma das maiores cheias do nosso amado e temperamental Tâmega), escritor e poeta (escreveu vários livros) e funcionário público, ocupação que não foi duradoira por não ser um alinhado com a “situação”.

Acabou por emigrar para o Brasil onde constituiu família e se integrou de alma e coração na sociedade cultural brasileira tendo vindo a ser um dos seus mais prestigiados cidadãos. Os seus escritos e intervenções mereceram ter sido escolhido para ocupar a Cadeira Nº 42 na Academia Municipalista de Minas Gerais, na cidade de Belo Horizonte. Sócio com o nº 2257, foi um dos seus mais insignes directores na área dos Assuntos Culturais.

Nasceu na freguesia de São Gonçalo de Amarante no dia 30 de Dezembro de 1915 e era filho de Emília Teixeira de Queirós. Faleceu em sua casa à rua Augusto de Lima, em Palmeiras, Minas Gerais, Brasil, no dia 30 de Setembro de 1981.

Estamos, pois, a falar de António Teixeira de Queirós que, apesar de ter vivido um “exilio” de cerca de trinta anos em terras de Santa Cruz, nunca jamais e em tempo algum, esqueceu a sua Terra natal e, como prova disso, basta folhear os semanários amarantinos onde podemos deliciarmo-nos com as suas cronicas e outros escritos, muitos deles falando e recordando momentos e figuras gradas da nossa sociedade.

Por mim foi apresentada em Sessão de Assembleia de Freguesia no dia 29 de Setembro de 2015 – ano do 1º Centenário sobre o seu nascimento – uma proposta para atribuição do seu nome a um espaço público da nossa cidade. Esta proposta, depois de analisada, foi aprovada em Sessão de Assembleia de Freguesia no dia 28 de Abril de 2016, ficando, assim, eternizado o seu nome na toponímica amarantina.

Filha, Yvelise Queirós Crepaldi, com António Patrício e o Presidente da CM Amarante, José Luís Gaspar

Foi recordado, com muito carinho e alguma emoção, aquando de uma tertúlia no “seu” Café-Bar São Gonçalo nos passados dias 12 e 13 do corrente mês de Julho, aquando da visita de sua filha Yvelise Queirós Crepaldi, também escritora e contista e de sua neta Geovanna, onde alguns seus contemporâneos e descendentes puderam trocar documentos, fotografias e reviver peripécias.

Visitaram-se sítios, conheceram-se pessoas, vivenciaram-se momentos e, acima de tudo, criaram-se amizades e recordou-se o Homem, o Amarantino, o Cidadão, o Escritor e Poeta.

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