José Castro
O mundo terrestre, há umas centenas de anos atrás, era um mundo bem mais pequeno, em termos de informação e quase infinito em tamanho. Um mundo, onde a informação era escassa e extremamente lenta para uns poucos de privilegiados, pois o analfabetismo era dominante na população. O trabalho era fundamentalmente físico, quer se tratasse da agricultura ou do mundo fabril, o trabalhador era visto como (mais) uma máquina sendo explorado. O mundo era quase infinito em tamanho, pois a maioria da população pouco se afastava do seu local de origem. Cheguei a ter alunos que viram o mar pela primeira vez através de visitas de estudo da escola! Haveria, claro, as exceções de todos aqueles que arriscavam e iam para fora do país, uns para mais perto, outros numa viagem “infinita” de barco para o Brasil. Numa população analfabeta, todo aquele que sabia ler, que tinha conhecimentos era o “rei”. Assim, o professor, o padre ou o Sr. doutor (médico) seriam vistos quase como deuses, sem falar da autoridade que era “sentida” fisicamente por quem desobedecesse.
O acesso à informação, ao conhecimento, de uma forma geral deveria ter proporcionado um mundo bem mais evoluído e ético. O mundo está pequenino, ir a um país vizinho é já alí! Ir ao Brasil demora menos tempo que no passado ir do norte ao sul de Portugal e já não temos o Concorde! Contudo, o alegado conhecimento proporcionado pelas instituições de ensino (desde infantário ao pós-doutoramento!) não acompanhou este encurtar de distâncias e não proporcionou seres mais éticos, pacíficos, tolerantes, mas apenas seres competitivos, egoístas, dispostos a passar por cima de tudo e todos para conseguirem o que querem!
As organizações com a sua “missão, visão, valores, políticas” extremamente profundas e éticas nas suas páginas da internet, apresentam na cultura organizacional poucos desses valores, promovem diferenças salariais na respetiva hierarquia muito elevadas e os trabalhadores continuam a ser explorados, psicologicamente! O orgulho, a vaidade, e o poder de um administrador exprime-se logo no veículo em que se faz viajar! Não há uma empresa conhecida de todos nós que se “arrependeu” de comprar carros topo de gama para os administradores, quando a mesma dá prejuízo?
As religiões tradicionais cada vez mais entram em descrédito (afinal, agora também sabemos ler e pensar) e se afastam de seu propósito original, pois nem a salvação está à venda, nem a pedagogia do medo nos faz recear o “temor” de “Deus”. Afinal os seus representantes são tão humanos (ou menos) que nós e cometem igualmente todo o tipo de “pecados”!
A evolução científica e tecnológica, que é (e será) sempre extraordinária e que tanto progresso permite, igualmente disponibilizou armas e equipamento bélico que permite extinguir a vida do planeta!
A economia, sempre a economia, qual vaso inclinado cujo dinheiro corre sempre para o mesmo lado, assegura que haverá sempre dinheiro para destruir, aniquilar e matar. Haverá sempre dinheiro para controlar recursos naturais e os disponibilizar ao preço pretendido! Haverá sempre dinheiro para dominar, comprar e corromper o elo mais “fraco”.
Em termos políticos surgem cada vez mais pólos radicais, onde o diálogo, a comunicação se torna cada vez mais agressiva, inútil e vazia! Em termos ecológicos o planeta reage à pressão a que é submetido (poluição e aniquilação de recursos naturais e de vida selvagem) com alterações climáticas nunca vistas e cujos efeitos são devastadores.
Perante tudo isto, parece que estamos continuamente a cair no abismo! Presumo que não! Não sou pessimista, mas sim realista/otimista. Acredito no ser humano e na sua capacidade de evolução. A Consciência social hoje é muito mais profunda por parte da maioria da população e muito mais ativa. Necessitamos de mais ativismo consciente e pacífico! Uma mudança global é urgente. Não uma mudança ruidosa, destruidora, primitiva, contra tudo e contra todos! Afinal todos somos cúmplices da situação em que vivemos! Claro que com intensidades distintas! Assim, cada um tem de fazer a sua parte na promoção de um mundo com mais ética e compaixão por todos os seres. De que forma podemos contribuir para isso? Na família? Na sua atividade profissional? Como ativista? Como voluntário? Como Peter Drucker dizia “tempos loucos exigem empresas loucas”. Estamos a viver momentos cruciais que exigem de nós algo mais (louco) para minorar ou reverter toda esta situação. Todos querem a mudança, mas ninguém quer mudar! Não chega uma superior consciência se na prática não alteramos nossos hábitos, nossos costumes, nossos pensamentos limitantes, a bem do próximo, a bem dos animais e da natureza! A bem da nossa casa que é o planeta Terra! Precisamos de política, economia e ecologia mais profundas e de uma espiritualidade inclusiva onde o transcendente nos una e interligue com tudo e com todos, de forma atemporal, em qualquer dimensão espaço/tempo! Precisamos de fazer Paz, “Pazear,” precisamos de fazer Amor (não necessariamente isso que está a pensar), mas sim “Amorear”, nova palavra, para não haver dúvidas!
A questão a colocar é: Como vai ser a sua contribuição? Que hábito novo vai adquirir ou que hábito velho vai eliminar que lhe permita conscientemente fazer parte dessa revolução pacífica e silenciosa? Conto consigo!