José Castro
E o Mundial de Futebol, está aí! Claro que todos nós vamos “torcer” para que Portugal, depois de conquistar um Europeu, conquiste um Mundial. Não há dúvida que o desporto em geral e o futebol em particular, pelas “massas” que movimenta (quer em população, quer em euros!) pode servir de ponte e aproximação entre os vários países, contribuindo para a disseminação de boas práticas democráticas!
O Qatar é um país recente com uma área aproximada da região de Trás-os-Montes e Alto Douro e economicamente assenta no setor do petróleo e do gás. Com os seus poucos milhões de habitantes (incluindo estrangeiros) tornou-se o país mais rico do mundo em relação ao PIB per capita! Portugal tem relações comerciais com o Qatar, ocupando no ranking do comércio internacional, durante o ano de 2021 a quinquagésima segunda posição no que diz respeito às importações e a septuagésima posição nas exportações. Os relacionamentos entre países assemelham-se aos interpessoais. Podemos nos relacionar com todos, mas a níveis e intensidades diferentes. Podemo-nos relacionar com todos, mas deixando claro pontos convergentes e divergentes! Podemo-nos relacionar com todos, mas deixando claro quais os nossos princípios, não meramente individuais e religiosos, mas também universais e éticos. O regime político do Qatar baseia-se na sharia ou lei islâmica, e com ela vem um conjunto de argumentações, proibições e punições obsoletas. Mais uma vez, as mulheres e comunidade LGBTQI+ são o alvo de restrições e graves punições, inclusive o apedrejamento. Enquanto professor/formador na temática de Higiene, Segurança e Saúde no Trabalho, não posso ficar indiferente às condições de trabalho da construção de todo este “aparato” para o Mundial, jamais esquecendo os milhares de mortes que ocorreram! Como pode o Qatar, membro desde 1971 das Nações Unidas, ratificar a Declaração Universal dos Direitos Humanos e estar presente no Conselho do Direitos Humanos?!!
O espetáculo da abertura do Mundial de Futebol, foi exemplarmente estratégico! Luz, cor, música, dança, e mensagens “fortes”, mas vindo daquele país soaram a falso! Claro que esta mediatização pode igualmente dar força a movimentos que lutam pelos direitos humanos, quer nesse país quer em países vizinhos (alguns ainda mais ditadores) e, quem sabe, ser o início do fim da Sharia como regime político.
Infelizmente, não pode ser como disse o nosso Presidente da República “O Qatar não respeita os direitos humanos, a construção dos estádios, e tal… é muito discutível. Esqueçamos isto, mas não é discutível, é criticável.” Não podemos esquecer! Não podemos “oficialmente” fechar os olhos a tudo e deitar para debaixo do tapete! Não podemos apenas criticar! Os valores mais profundos e éticos têm de ser sempre promovidos e divulgados. Temos de demonstrar o nosso desagrado! Há que ter coragem, claro! Assim sendo, e visto ser um acontecimento meramente desportivo, Portugal não deveria estar representado pelos mais altos dirigentes da nação, e sim, apenas “especificamente,” pelo Secretário de Estado da Juventude e do Desporto.
Quanto à equipa Portuguesa, eles sabem, que cá ou lá, estaremos com eles até à vitória final! É desta vez que vamos ser Campeões Mundiais, “doha” a quem “doher”!