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Cultura, Literatura e Filosofia

E ENTÃO, QUE SEJA NATAL

Dália Carneiro
E então, que seja Natal…
Tenho memórias de natais fenomenais, não me recordo deles pelos presentes, mas porque tinha toda a família reunida, porque na tarde do dia 24 ia com os meus primos para o monte apanhar pinhões para jogarmos ao “rapa”, eu que era a menina que vivia no centro da cidade e apesar da distância ser inferior a 1km até casa dos meus avós maternos, dos meus tios, dos meus primos, entrava numa realidade diferente. Fecho os olhos e consigo “transportar-me” para aquele lugar, consigo sentir o cheiro da canela na aletria, do mel das rabanadas, consigo ouvir o barulho da “azáfama” das mulheres na cozinha, do meu avô” a chamar “meninaaaa”, da minha avó a chamar-me Cristina, dos meus primos a gritarem “Kikiiiiii” e eu a rodopiar por entre mesas e pessoas, feliz e mimada!
Fui encantada pelo Natal durante anos e anos e mais ainda depois do meu filho ter nascido, em que tentava fazer magia nesse dia, o secretismo dos presentes, a simulação da chegada do Pai Natal. Mas o encanto estava realmente na magia desses momentos, no brilho dos olhos das minhas pessoas, no calor dos abraços e na felicidade partilhada.
Hoje, o brilho no olhar das minhas pessoas continua a existir, o calor dos abraços continua a ser o mesmo, a felicidade continua a ser partilhada… talvez o problema esteja nos meus olhos que nesse dia não brilham, talvez o problema esteja nos abraços que me faltam, talvez a minha felicidade não esteja completa. A verdade é que a partir do momento que na mesa de Natal me faltou o meu Pai, não mais consegui voltar a sentir a “magia” que me envolvia nessa quadra, mas continuo a não a sentir em todos os outros dias do ano, em que me sento à mesa e o lugar dele fica vazio.
Não sou certamente a melhor pessoa para falar do Natal, pois ainda que encantada por todos os natais, vivo desencantada com o Natal!
Não consigo entrar no “espírito natalício” que assola todas as pessoas nesta época. Para ser sincera, irrita-me profundamente a veste da hipocrisia e da amorosidade, com que a sociedade se engalana.
Parece que por “milagre” do Menino Jesus toda a gente se adora, todos são amigos de todos e a felicidade do próximo é o bem mais importante.
“Natal é quando o homem quiser…” disse Ary dos Santos, eu digo, Natal deveria ser todos os dias. A sociedade devia imbuir-se deste espírito, de uma forma verdadeira, o ano todo.
Sim, porque Natal não são presentes, Natal é ser presente!
Natal é o bom dia que damos ao trabalhador com quem nos cruzamos na rua.
Natal é o sorriso que oferecemos à pessoa que está sentada à nossa frente nos transportes públicos, na sala de espera do consultório médico ou até na mesa do café.
Natal é a preocupação e a palavra amiga que temos com o vizinho ou com o colega de trabalho.
Natal é a ajuda que damos a quem precisa.
Natal é a mão amiga que levanta o próximo.
Natal é o abraço que damos a quem necessita de apoio.
Natal é tanto por tão pouco!
De que adianta andarmos a apregoar “paz e amor” no último mês do ano, se nos restantes não somos capaz de iluminar o dia das pessoas com quem nos cruzamos com um simples sorriso e que tantas vezes pode fazer toda a diferença na vida dessa pessoa?!
E então, que seja Natal…
Bom Natal a todos, na esperança de que possa ser Natal todos os dias!

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