Por dentro do olhar persiste o de fora do ser, enquanto ilusão ou metáfora da sensação falseada no gume do olhar. Nunca saberemos o que são as coisas, meras transcrições de apontamentos, visíveis nos torvelinhos vários do tecido complexo da alma ou do corpo
Dizemos alma, como se a alma fosse o etéreo disperso no côncavo do ser; e, contudo, a anima permanece nos poros da pele, alimento das veias, matéria nutricional da vida de todos; e o corpo, pesado e térreo, apenas flutua em píncaros de ousadia: porque a anima lhe eleva o torso caído em melancolia ou mágoa
Nada sabemos; e, contudo, arriscamos elevar a voz em verdades que supomos serem a certeza das coisas e dos seres, sedentos de arrimo no dealbar da luz, em cada manhã.
De outro modo, não ousaríamos erguer os pés e andar, no torvelinho inventado pela nossa cupidez. Mais vale não ter, não querer, não falar, e sobretudo não ouvir, deixando de lado a necessidade do aplauso, do acordo ou do panegírico, evitando ajuizar ou apor rótulo na testa daqueles que jamais saberemos.