Se há coisa que me enerva é andar a passo de caracol, e ainda me enervam mais aqueles “domingueiros” que, quando andam na estrada, parece que vão a passear na avenida. Na auto-estrada, então, nem se fala, gosto de acelerar. As estradas, os carros e as motas, foram feitos para andar e é no adensar da velocidade que nasce a minha satisfação. Outra coisa que abomino, são cintos de segurança,
O que ainda falta ao mundo do homem é a elevação da beleza à condição de paradigma. Uma inconcebível atonia sobrevoa a fuligem cinzenta do universo em que nos movemos, os valores trazem, todos eles, a marca álgida do nosso próprio interior desencantado e vazio. Impotentes para descobrirmos em nós a faísca e sermos a flecha capaz de derreter toda a escória e abalar todas as paredes, deixamo-nos estar, colados
O racional é real e o real é racional … estranha frase não é? Duas palavras, real e racional, repetidas e trocadas, acopladas pelo verbo ser: e eis a sentença filosófica do grande mestre do idealismo dialéctico, Georg W. F. Hegel. Para a maioria, um jogo inútil de signos, uma metáfora ou, quem sabe?, um divertimento fútil de quem nada de mais útil encontrou para fazer na vida. E no
Quando, um destes dias, entrei num restaurante da capital, nem queria acreditar no que via. A confusão era demasiado surrealista para ser verdade e fiquei estupefacto com o que a nova lei dos animais provocou nos espaços de restauração. Aquele espaço que se queria de higiene e de boa convivialidade, estava transformado no caos. E, deparar-me com tal cenário levou-me a questionar para onde vai este país. Onde já se
"Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo; o que importa, porém, é transformá-lo." Tentarei analisar esta frase, a XI Tese sobre Feuerbach de Karl Marx, a uma luz um pouco diferente daquela que eu própria já empreendi em tempos, e fá-lo-ei apelando à minha experiência, não apenas de professora de Filosofia, mas também de filósofa. Marx afirma que os filósofos se limitaram a interpretar o mundo e eu oponho
Sejamos honestos, que por esse calcanhar de Aquiles não irá mal ao mundo. Umas purpurinas aqui, uma t-shirt ali, um vinho acolá, um petroleiro a atracar, relógios-de-ponto a rodos, enfeites que irrompem do plasma, feitos da farmacologia e zarabatanas, mestres-escola e códigos-de-barras, marinheiros-de-água-doce, comentadores de fim-de-semana, promessas, pagelas, esmolas e chico-esperteza, soldados e mercenários, eis a caldeirada, a democracia, a nossa natureza a temperar dentro do caldeirão onde se servem
Do fundo da sétima solidão – Um dia, tendo fechado uma porta atrás de si, o viajante deteve-se e chorou. Depois disse: «Esta necessidade de verdadeiro, esta sede do real, este ódio pela aparência…Ah! como lhes quero mal! Porque é que terei sempre atrás de mim, estes perseguidores sombrios e apaixonados! Porquê eu? Aspiro ao repouso, eles não mo consentem. Quantas coisas me exortam, tentadoras, a que me detenha! Encontro
Tenho consciência que não existe uma hora certa para começar a escrever, pois não precisa de ser de manhã, à tarde ou à noite, na segunda ou na quinta feira, no início, no meio ou no final da semana. Quando começo a escrever tenho sempre a sensação que esse é o momento certo e lá chega a sofreguidão de encontrar as palavras certas, palavras inventadas, para darem corpo aos meus
É bom sentirmo-nos em casa, sentir a liberdade e poder expressá-la publicamente. Reside pois, nesta liberdade que ainda só é privilégio de alguns, uma das maiores conquistas levadas a cabo pelos povos, nomeadamente, nas sociedades modernas ocidentais. Existe contudo, quem acredite que a casa da liberdade e da democracia é aquela onde os políticos, democraticamente eleitos, apregoam os seus interesses fingindo defender os nossos. Mas essa ideia não podia ser
Escrever é, para mim, um acto sagrado. Se falo assim é na exacta medida em que, invariavelmente, começo a escrever obedecendo, à partida, a uma ideia - líder; e, após algumas linhas, o texto desliga - se da premissa inicial e vai seguindo o seu caminho, surpreendendo - me. Só deste modo sou capaz de produzir obra, escrevendo. O mote, se existe, representa apenas o motivo desencadeador, a intenção, o