As brasas dormem, sussurradas pelo imaginar do que poderá ter sido uma lareira nocturna, das que espreitam por detrás de um gradeamento que policia o salto aventureiro de faúlhas e das sobras dos crepitares eufóricos quando o lume os transmuta. À volta da mesa, redonda, o pó branco e grés reúnem-se esparramados no chão, esmagados por passos dados descalços, no cimento tijoleirado são exibidas as marcas do que parecem ser
Hoje a aula de Português foi um imenso feliz alarido. O motivo? Introdução ao estudo do texto poético. Não é a primeira vez que isto me acontece, quando toca a iniciar as aulas alusivas a este género literário. Tratando-se de um conjunto de aulas com conteúdos que são, para muitos professores, uma verdadeira “dor de cabeça”, já que os alunos dizem não apreciar o texto poético, não sei muito bem
Aperto as mãos e faço força para que os braços não me escorreguem. Encosto a cara ao blusão velho, cujo cheiro consigo distinguir na memória e fecho os olhos. O barulho da mota soluça pela noite, tenho uma lágrima presa pelo frio e o sorriso congelado na felicidade de imaginar, ainda hoje, a mota negra a ribombar por uma estrada imaginária em direção ao céu. Nada há que prenda mais
Menina nossa a que ali se encontra no passeio, pisando a uniformidade da textura que por baixo de seu corpo sombra imensa desenha, onde a carência de uma certeza avoluma uma dor que em si arquiva e a que recorre em tempos nem sempre idos. O caminho, o mesmo, a direção, previsível, para nós que a temos observado na orquestração arritmada de coração e pensamento seus. Tentava reconstruir memórias. Em
Escrever é, para mim, um acto sagrado. Se falo assim é na exacta medida em que, invariavelmente, começo a escrever obedecendo, à partida, a uma ideia - líder; e, após algumas linhas, o texto desliga - se da premissa inicial e vai seguindo o seu caminho, surpreendendo - me. Só deste modo sou capaz de produzir obra, escrevendo. O mote, se existe, representa apenas o motivo desencadeador, a intenção, o
Conheci o Ricardo e concomitantemente a Bird Magazine no final da inauguração da exposição Alma Tua, no Ciclo Cultural da UTAD, no final de 2013. De telemóvel na mão, no pequeno gabinete da professora Olinda Santana, encostas do Alvão ao fundo e a minha imaginação a descansar, como uma pequena ave, nos ombros de mestre Torga, o estudante Ricardo direcciona uma entrevista para uma revista online, um blogue, um espaço
E num instante o dia 22 de outubro de 2014, fica à distância de mais de 60 crónicas! Escrevia eu, nesse dia, sobre o Dia Nacional da Paralisia Cerebral e a propósito do lançamento do livro “Por acaso…” da autoria da jornalista da RTP Fátima Araújo, com prefácio do Prof. Dr. João Lobo Antunes, uma das maiores autoridades, ao nível da Neurocirurgia. Este livro, é uma reportagem jornalística onde se relata
Quando me pedem para escrever sobre determinado assunto, pode correr de duas maneiras. Ou o tempo e a mente se aliam ao ato de escrever e consigo elaborar um texto com facilidade, ou fico a olhar para a caneta e para o papel com a sensação de que, por momentos, não sei escrever. A escrita é isso mesmo. Quem tem prazer em escrever sabe isso.Escrever para a Bird Magazine nunca
Esta semana, mais precisamente no dia 8 de Março, marca-se o dia Internacional da Mulher. Estando hoje a escrever sobre isso, poderia começar por falar no feminismo, e na concepção errada que muitos têm do mesmo, ou então poderia falar dos imensos ativistas que combatem com toda a sua alma as desigualdades de género, ou então poderia ser eu mesma uma porta-voz de tudo o que está errado, comparando as
A solidão molda-nos a companhia. Transporta-nos para aquilo que não desejamos transportar, apenas e só porque não nos sabemos caminho, nem caminhantes, apenas fugazes, esbaforidos, errantes. A solidão molda-nos a alegria. Como agora, quando a chuva bate no vidro e eu encho o peito, faço de conta que me escondo atrás do pinheiro, sinto a áspera casca e cheiro as recordações de arrancar, na ignorância, aquelas espessas crostas, raspá-las numa